Livros

SIGraDi #25

Sociedad Iberoamericana de Gráfica Digital 1997-2021

Organização
Pablo C. Herrera David M. Sperling Gonçalo C. Henriques Simone H. T. Vizioli

Edição
Gabriel B. Botasso

Pablo C. Herrera. Universidad Peruana de Ciencias Aplicadas, Perú
David M. Sperling. Universidade de São Paulo, Brasil
Gonçalo C. Henriques. Universidade Federal do Rio de Janeiro, Brasil
Simone H. T. Vizioli. Universidade de São Paulo, Brasil

"...Essa cartografia foi tecida por meio de cinco gestos.

O primeiro foi a recuperação de um volume significativo de informações disponíveis em Anais físicos e digitais, arquivos pessoais de seus membros históricos, e em bases de dados. Transparece aqui a enorme energia coletiva que foi colocada por muitas pessoas em prol da construção da SIGraDi. Mais de 2.800 artigos foram publicados e apresentados em mais de 1.000 horas de atividades presenciais e remotas, agregando pesquisadores da Iberoamérica e das sociedades irmãs, e um público estimado de mais de 4.000 pessoas ao longo de 25 anos.

O segundo gesto foi a realização de um chamamento público para que os membros enviassem, por meio de “memórias escritas”, as experiências mais significativas ao longo de seu envolvimento com a Sociedade. Nestes textos, que vão de relatos factuais e cronologias a relatos informais e mais subjetivos, uma outra escala de abordagem se apresenta, a dos sujeitos e suas experiências pessoais. Por meio desses relatos, cada congresso torna-se único.

O terceiro gesto foi igualmente um chamamento público para que os membros da Sociedade compartilhassem “memórias visuais”, as experiências registradas em fotografias dos eventos que participaram, as quais contribuíram para a ampliação de uma base de registros imagéticos da história da SIGraDi a ser continuamente ampliada e sistematizada. Nestas imagens, em primeiro plano se evidenciam o calor humano e a afetuosidade, como características perceptíveis por aqueles que chegam e logo são acolhidos. Devemos destacar, de passagem, os animados eventos culturais e sociais, como uma marca registrada.

O quarto foi o registro de um conjunto de objetos e materiais das edições dos congressos, que compõem uma verdadeira “coleção gráfica” de suas singularidades temáticas, assim como testemunho das transformações tecnológicas pelas quais a comunidade de SIGraDi passou em duas décadas e meia.

Por fim, o quinto e último gesto foi configurar e vincular todo o material recolhido. A analogia que utilizamos é a de uma corda feita do entrelaçamento de muitos fios. E tais fios aparecem neste livro sob a forma de “linhas do tempo”, feitas de matérias- primas tão diversas quanto relatos, dados, eventos, palavras-chave e imagens, que nos remetem a diferentes maneiras de contar histórias, e antecipam possíveis tendências. Normalmente associadas às cronologias temporais, as linhas do tempo aqui sugerem e potencializam igualmente outras leituras, que dizem respeito a sincronicidades, correlações e inferências entre o próximo e o distante. Portanto, o livro pode ser lido tanto linearmente quanto aos saltos, conectando-se relatos-dados-eventos-palavras- chave-imagens.

Sobre a organização do livro, de início, o leitor encontra a coleção de materiais gráficos e objetos dos congressos, os dados técnicos da publicação, texto de apresentação que lê nesse momento e o mapa de territorialização das sociedades que partilham os mesmos interesses que a SIGraDi. Na seção seguinte, Memórias Escritas, relatos de membros da comunidade que responderam ao chamado apresentam-se organizados pelo ano de sua primeira participação nos congressos, entre 1997 e 2020 e, em cada ano, por ordem alfabética, numa rede horizontal distribuída.

Em (Des)locamentos, são apresentadas as cidades e a lista de instituições acadêmicas onde foram organizados os congressos, em um mapa mundi que adota a Projeção de Gall-Peters. Contrariamente à projeção de Mercator, a projeção escolhida mantém a proporção entre as áreas dos países e continentes, reposicionando as perspectivas geográficas tradicionais a partir do hemisfério norte. É digno de nota que ao longo desses 25 anos, SiGraDi viajou 76.138 quilômetros entre 21 cidades de 10 países, o que equivale a quase duas voltas na Terra pelo círculo equatorial!

Em seguida, um conjunto de linhas do tempo gráficas recuperam e sintetizam dados relativos aos eventos e à gestão da SIGraDi, começando com a evolução de sua identidade gráfica.

A Linha do Tempo – Congressos apresenta a evolução das capas dos Anais de cada congresso, as cidades e universidades sede, datas de realização, Comitês Organizadores Locais e os palestrantes convidados. É acompanhada dos prêmios Arturo Montagú, outorgado desde 2005 a pessoas com reconhecida trajetória na Sociedade. Seguem os prêmios de melhor trabalho escrito e de apresentação outorgados desde 1997 e, finalmente, o prêmio Ph.D. Workshop, outorgado desde 2013. Incluem-se as exposições e seus organizadores, workshops e seus ministrantes, além do número de artigos publicados em cada congresso.

Já em Linha do Tempo – Gestão, apresentam-se os integrantes do Comitê Executivo Internacional, Membros Suplentes e Comitê Assessor ano-a-ano, as equipes editoriais dos periódicos International Journal of Architectural Computing (IJAC) desde 2003 e Gestão & Tecnologia de Projetos desde 2016, além dos projetos editoriais especiais de 2006, 2013 e 2021.

Os idiomas, que constituem historicamente uma das identidades culturais de nossa sociedade, são objeto de uma análise prospectiva, com gráficos, cruzando-se dados identificados nas bases CumInCAD (Cumulative Index about publications in Computer Aided Architectural Design) e CumInCAD.es / ITC (Digital library of Construction Informatics and Information Technology in Civil Engineering and Construction), com registros dos chairs dos congressos.

Em Linha do Tempo – Palavras-chave e Autores, são recuperadas informações referentes às palavras-chave mais utilizadas nos artigos dos congressos, correlacionadas com os autores mais referenciados, e a evolução dessas palavras até o ano de 2020.

O conjunto das linhas do tempo expõe claramente a expansão do escopo dos congressos, com a incorporação de uma diversidade de temas, ampliação do número de artigos publicados, workshops e exposições, além de ações editoriais e iniciativas conjuntas com as sociedades irmãs.

Por fim, imagens fotográficas que documentam os congressos ao longo dos anos captam intensos momentos coletivos da sociedade. Dentre os muitos registros que recebemos e que constituirão um arquivo em constante atualização, procuramos privilegiar imagens que focam da maneira mais ampla possível o espectro de cada evento.

Sabemos que um projeto de recuperação de memória coletiva como este nasce fadado a estar cheio de ausências. E que ações de edição e curadoria trabalham a partir de materiais concretos, procurando construir nexos de sentido. Esperamos que esta contribuição construída coletivamente como uma cartografia histórica permaneça aberta para preencher ausências e novos desafios, com uma atualização a tão esperada e constante atualização da comunidade SIGraDi, porque sem vocês isso não seria possível.

Em nome da SIGraDi, agradecemos a cada um que contribuiu para este percurso vibrante e inspirador.

Que venham mais 25 anos!..."

HOMO HABER 2.0

Homo Faber 2.0: Políticas do Digital na América Latina

Centro Cultural USP São Carlos, de 5 a 30 de novembro de 2018
Av. Dr. Carlos Botelho, São Carlos – SP, Brasil [13561-003]

Curadores
Rodrigo Scheeren (USP – Universidade de São Paulo | Brasil)
Pablo C. Herrera (UPC – Universidad Peruana de Ciencias Aplicadas | Perú)
David M. Sperling (USP – Universidade de São Paulo | Brasil)

Apresentação
Duas décadas se passaram desde a implementação, difusão e desenvolvimento do uso da fabricação digital na área de Computer-Aided Architecture Design (CAAD) na América Latina. Durante todo esse período, diferentes temporalidades e especificidades da região se tornaram notáveis. A primeira oportunidade de capturar e entender uma parte desse processo aconteceu durante a Conferência CAAD Futures 2015 – “The Next City”. A partir da iniciativa impulsionada pela professora Gabriela Celani (UNICAMP), os professores David M. Sperling (USP) e Pablo C. Herrera (UPC) organizaram a exposição “Homo Faber: Fabricação Digital na América Latina”, que apresentou trabalhos de 24 consolidados e emergentes. laboratórios de seis países sul-americanos que foram criados entre 2005 e 2014.

“Homo Faber 1.0” – como chamamos – demonstrou pela primeira vez ao mundo o potencial da fabricação digital na América Latina. Concebida em torno do tema “Informando Materiais e Materializando Formas” (Sperling e Herrera, 2015), esta exposição representou, até então, o principal esforço de sistematização, categorização e apresentação de processos e dinâmicas de fabricação digital nas áreas de arquitetura, design e construção.

No contexto do XXII Congresso da Sociedade Iberoamericana de Gráficos Digitais (SIGraDi / São Carlos, Brasil – 7 a 9 de novembro de 2018) que assume como tema central a “Tecnopolítica”, a Homo Faber 2.0 enfoca a “Política da Digital na América Latina”. Montaner e Muxi (2011: 65-66)* argumentam que “a ação política da arquitetura sempre existiu, mesmo que haja profissionais que negam essa relação e fazem política por omissão. Se a política é a organização social de um grupo que se desenvolve em um espaço, dependendo de onde você age na criação deste espaço, este será agregador ou desagregador, inclusivo ou exclusivo, será regido pelo desejo de redistribuição de qualidade da vida ou de acordo com a perpetuação da exclusão e o domínio dos poderes. É por isso que a arquitetura é sempre política”. A partir dessa abordagem, a fabricação digital na arquitetura não é exceção.

O tema escolhido para esta exposição demonstra como alguns usos das tecnologias de fabricação digital, a partir de sua natureza disruptiva, impõem novas políticas sobre processos, programas acadêmicos, desenvolvimento de currículos, linhas de produção, implementações e adoções. Assim, o objetivo desta exposição é estar ligado à política e à sociedade, mostrando o potencial da fabricação digital e seu impacto nas comunidades, evidenciando como a identidade dos projetos evolui a constante experimentação de forma e material para o desenvolvimento de novos produtos ou o aprimoramento dos existentes, do objeto à escala arquitetônica.

Para a Homo Faber 2.0, o comitê organizador selecionou 37 projetos de um total de 61 propostas. Esses projetos, advindos de nove países da América do Sul e Central, foram distribuídos em três categorias:

– 12 projetos relacionados a processos de colaboração de projeto para mudanças na sociedade com atividades voltadas para os cidadãos em particular e estratégias de subversão no uso de tecnologias digitais.

– 19 projetos relacionados a processos e protótipos de pesquisa conceitual utilizando experimentação formal e material, bem como o desenvolvimento tecnológico de novas técnicas e produtos.

– 6 projetos relacionados ao hibridismo artesanal-digital / novas artesanias / identidade cultural que promovem o uso misto de técnicas artesanais e digitais para a criação de artefatos.

Nesta edição, Homo Faber reflete um amadurecimento de iniciativas que aprimoram a abordagem de diferentes escalas para o ambiente construído. Os processos investigados e os artefatos resultantes demonstram um avanço na complexidade das propostas, escala de fabricação, soluções técnicas e materialidades. Os projetos estão amplamente ligados à cultura local, reconhecida como fonte de inspiração geradora de significado para o fluxo de design e montagem. Os laboratórios surgem com propostas cada vez mais associadas a problemas locais, passando de experiências referenciadas ao hemisfério norte a outras que buscam em sua própria realidade e comunidade uma conexão que valorize sua identidade.

Portanto, é importante destacar que por meio da Homo Faber são traçadas exposições, histórias e origens, que são o cotidiano de outras iniciativas transformadas pela realidade de cada comunidade, cidade e país. Finalmente, nesta segunda versão, procuramos respostas a problemas locais, impulsionados por experiências não apenas de um laboratório, mas de diferentes contribuições que enriquecem novas políticas e políticas de fabricação digital, não apenas para seu próprio lugar, mas também para suas cidades e o mundo.

A visibilidade dos projetos por meio da Homo Faber reforça a opinião de Hans-Ulrich Obrist, para quem uma exposição expressa possibilidades de conectividade, de criar pontes e redes entre tecnologia, política e comunidade, a partir da perspectiva da academia e da profissão de arquiteto.

* Montaner, J. & Muxí, Z. (2011). Arquitectura y Política. Ensayos para mundos alternativos. Barcelona: Editorial Gustavo Gili.